Saturday, March 27, 2010

UM FATO PARA SE REFLETIR

Em outubro de 2004 Duda Mendonça, responsável pela campanha publicitária do então candidato Lula à presidência, foi preso em flagrante em um “clube” de rinhas de galo no RJ, do qual declarou ser “sócio”. À imprensa ele afirmou não ter vergonha de nada, disse se tratar de um hobby antigo e que não estava fazendo nada de errado. Finalizou dizendo que “o Brasil todo sabe que eu gosto de rinha de galo e sabe que esse é o meu hobby”.

Esse episódio merece uma reflexão pois serve para explicar um pouco dos porquês da situação de falência moral em que se encontra o Brasil. Uma das poucas heranças positivas deixadas pelo ex-presidente Jânio Quadros, o breve, foi a de ter conseguido incluir a rinha de galo como contravenção penal. Desde então, dos anos ’60 até o momento, esta é uma lei que insiste em “não pegar” pois o tal “hobby” está mais vivo do que nunca. Sabemos que a boçalidade humana não tem limites e o fato do Sr. Duda ser um profissional de sucesso, não o livra de também ser um completo boçal como o episódio mostrou.

Acredito que qualquer pessoa medianamente sensível e que tenha noções básicas de respeito aos animais e à natureza em geral, aceite que o tal “hobby”, como o classifica Duda Mendonça, é de uma crueldade absurda. Nem precisamos perder mais tempo com isso. Ainda assim, restaria discutir se a lei é certa ou errada, mas o foro para tal discussão é o poder legislativo e não a prática do ato infracional pelo cidadão. Não é o que pensa o Sr. Duda. Vindo dele, particularmente como formador de formadores de opinião, o episódio torna-se ainda mais grave. Suas declarações, feitas em um tom misto de naturalidade e indignação, mostram o quanto certas pessoas se acham acima da lei no Brasil. Se não, vejamos: disse ele tratar-se de um “hobby antigo” (ou seja, confessa que transgride a lei há muito tempo), acha que “não está fazendo nada de errado” (portanto, ignora solenemente a lei ou se acha acima dela), “não tem vergonha de nada” (logo, ter sido preso em flagrante delito não lhe causa constrangimento algum) e, finalmente, “o Brasil todo sabe que eu gosto de rinha de galo” (procura envolver a nação toda como seu cúmplice passivo). É, sem dúvida, um descarado, mas sabe muito bem onde pisa.

Por conta do horário em que ocorreu o episódio, o Sr. Duda acabou passando a noite no xadrez. Entretanto, em menos de 24 horas, graças às suas conexões que vão ao mais alto escalão possível, livrou-se da situação incômoda. Mas o episódio não parou por aí. Passado um mês, quando o assunto já havia esfriado o suficiente, veio uma ordem superior destituindo de suas funções o delegado responsável pelo flagrante e transferindo-o para uma outra função mais subalterna.

E é assim que se destrói a estrutura moral de uma nação. É isso que estamos fazendo com incrível diligência ao longo dos séculos de nossa história e os resultados aí estão para quem quiser ver.

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