Thursday, January 26, 2006

JOGO PERIGOSO

A oposição – e neste caso refiro-me ao PSDB – tem nas mãos uma responsabilidade histórica para com o País, mas não só com ele: tem também em suas mãos o destino de sua própria sobrevivência.

Este jogo perigoso de acobertar ou tolerar as improbidades do Governo, quer seja em nome de uma discutível estratégia para as próximas eleições, quer seja em nome do telhado de vidro – muito provavelmente o mesmo que compartilha com o PT – pode trazer conseqüências irreparáveis. Parte do PSDB tem medo do ventilador que poderá espalhar merda por todo o espectro político, parte acha que vencerá as eleições fazendo o Presidente e o PT sangrar continuamente durante o tempo que resta até as eleições e parte, idealisticamente, delira sonhando que o Brasil já atingiu o estágio das democracias mais sólidas e que ingressou na fase das dicotomias do tipo “republicanos-democratas” ou “liberais – trabalhistas” e que, em assim sendo, fará uma eterna alternância do poder com o PT. Vã filosofia.....

É óbvio que o grande projeto da intelligentsia petista é muito mais profundo do que imagina o simplório mas muito esperto Presidente, no caso mero instrumento de tomada do poder. É um inocente útil no momento. Não tão inocente assim, mas certamente útil. E muito mais certamente ainda, descartável assim que o projeto maior se consolidar.

É nessa consolidação que mora o perigo. Políticos como os do PSDB e empresários cooptados que passam batido pela crise e blindam o presidente, uns por conveniência política do momento e outros pelos benefícios financeiros obtidos, são maus observadores da história. Acham que controlam os cordéis do poder e que não correm riscos maiores. No dia em que a casa cair, no dia em que houver o choque institucional, os queixos cairão mas aí será tarde demais para chorar o leite derramado.

A História está cheia de exemplos de como certos acontecimentos ocorrem de maneira quase fulminante. Aprendemos na escola que a queda do império romano foi a culminação de alguns séculos de decadência. Entretanto, para um patrício romano, a perspectiva histórica não interessa. Vale apenas que num determinado dia os bárbaros chegaram, saquearam Roma e o sonho se acabou. Judeus ricos, agarrando-se aos seus bens e negócios, viveram os primeiros anos do III Reich negando a possibilidade de que a campanha anti-semita dos nazistas os atingissem. Até o dia em que a SS bateu à porta e os arrastaram para os campos de concentração. A fragmentação da URSS foi outro exemplo bem recente de como a casa rui quase que de repente.

Eu acredito que exista uma espécie de “point of no return” nestes processos. Esse ponto é aquele em que as instituições estão suficientemente enfraquecidas para não mais terem poder de reação ao receberem um “coup de grâce”. Aplicado o golpe de misericórdia, o regime cai inapelavelmente, como fruta madura. Ou podre...

Estou convicto de que estamos marchando firmemente para esse ponto em que não mais será possível uma reação pois as instituições estarão enfraquecidas demais. Um exemplo disso é a tomada de assalto do Supremo que se desenha no horizonte próximo.

Se isso acontecer, para os caciques partidários, industriais e banqueiros milionários, sempre haverá Califórnias e Mônacos disponíveis. Para a patuléia e a classe média, sobrarão os horrores de um monumental logro ideológico que obrigará o Brasil a uma existência medíocre por muito mais tempo do que seria necessário.