Saturday, March 27, 2010

DECÁLOGO (Lênin, 1913)

O “Decálogo” abaixo apresentado, apresenta ações táticas para a tomada do Poder.

Qualquer semelhança com a atual situação brasileira NÃO é mera coincidência.


1. Corrompa a juventude e dê-lhe liberdade sexual;
2. Infiltre e depois controle todos os veículos de comunicação de massa;
3. Divida a população em grupos antagônicos, incitando-os a discussões sobre assuntos sociais;
4. Destrua a confiança do povo em seus líderes;
5. Fale sempre sobre democracia e em Estado de Direito mas, tão logo haja oportunidade, assuma o Poder sem nenhum escrúpulo;
6. Colabore para o esbanjamento do dinheiro público; coloque em descrédito a imagem do País, especialmente no Exterior, e provoque o pânico e o desassossego na população por meio da inflação;
7. Promova greves, mesmo ilegais, nas indústrias vitais do País;
8. Promova distúrbios e contribua para que as autoridades constituídas não as coíbam;
9. Contribua para a derrocada dos valores morais, da honestidade e da crença nas promessas dos governantes; nossos parlamentares infiltrados nos partidos democráticos devem acusar os não-comunistas, obrigando-os, sob pena de expô-los ao ridículo, a votar somente no que for de interesse da causa socialista;
10. Procure catalogar todos aqueles que possuam armas de fogo para que elas sejam confiscadas no momento oportuno, tornando impossível qualquer resistência à causa.


Evidentemente, como o “Decálogo” foi escrito há quase um século atrás, sua aplicação à atual situação do Brasil tem que sofrer as devidas adaptações táticas. Entretanto, mesmo que nem todos os ítens se apliquem rigorosamente ao momento atual, fica muito evidente que sua estrutura geral guarda uma estreita semelhança com o que temos observado na nossa atualidade.

CADA UMA....

Folha de São Paulo (dez, 2004)
“......Roberto Carlos não pretende se apaixonar em 2005”

Como é possível escrever uma barbaridade dessas? Que eu saiba, ninguém “planeja” se apaixonar em determinada época. Isso simplesmente acontece. E muitas vezes, de forma inesperada; outras vezes de forma até inconveniente. Falar desta maneira, ainda por cima, à respeito de um poeta – não dos melhores eu sei, mas ainda assim um poeta - é imperdoável!

Agência EFE (28/12/04)
“...A prefeitura de Jerusalém recusa obras de arte....”

O obscurantismo está mais disseminado do que se supõe. Imagina-se ele restrito às sociedades clericais como a do Afeganistão e, de certa forma, a do Irã, bem como aos rincões mais atrasados do mundo. O que não se podia esperar é que ele se manifestasse numa sociedade moderna e democrática como a que supunhamos existir em Israel. Nem o prestígio do renascentista Michelângelo ou de Rodin, maior escultor do século XIX, foram suficientes para fazer a prefeitura de Jerusalém aceitar as doações de réplicas de David e de O Pensador, respectivamente, sob a alegação de que se tratava de nús e que isso ofenderia as sociedades locais. É nisso que dá quando não se separa direitinho o Estado da Igreja.

Agência Reuters (12/01/05)
“ A senadora licenciada Roseana Sarney (MA) deverá deixar o PFL para assumir um ministério na reforma desenhada pelo presidente Lula”

A notícia é triste. Muito triste, pois mostra de maneira contundente que o fisiologismo político continua à toda no Brasil e que o PT não só não foi capaz de combatê-lo como aderiu desavergonhadamente a ele. Que a família Sarney fosse fisiológica até aí é “normal”; afinal, são profissionais da política, acostumados a fazer qualquer negócio para se manter no “pudê”. Mas a colocação feita pelo presidente, no sentido de que está escolhendo “um” ministério para “dar” à senadora mostra que o critério não é técnico, não é o da competência e sim o da conveniência, do conchavo, da barganha, da distribuição de favores. Pobre Brasil...desse jeito não vai sair tão cedo do buraco.

O CULTO À IGNORÂNCIA

Há certos modismos que causam profundo dano na formação da personalidade de um país. Um deles, especificamente, é o culto à ignorância e à pobreza.

O problema começa com a Igreja fazendo a apologia da pobreza, transformando o pobre em uma espécie de ser puro. As novelas de TV, de grande penetração popular, reforçam o conceito ao caracterizar os personagens “ricos” como vilões capazes de toda sorte de maldades.

A intelectualidade brasileira, majoritariamente de esquerda, faz eco, valorizando tudo que esteja relacionado ao popular o que, em um país terceiro-mundista, significa valorizar o pobre.

A pobreza e a ignorância não necessariamente estão interrelacionadas mas o que se observa é que, salvo as exceções óbvias, onde uma vai a outra a acompanha.

Não quero aqui abraçar uma tese conspiratória mas algo me diz que há interesses escusos que trabalham na perpetuação deste conceito porque lhes convém. O pobre, mas principalmente o ignorante, é presa fácil dos políticos populistas e corruptos, que costumam adotar políticas assistencialistas que não resolvem o problema.

São exemplos os inúmeros programas assistenciais promovidos pelo governo há décadas sem nenhum resultado prático no sentido de por fim à pobreza ou à ignorância. Outro exemplo é a situação do ensino. Hoje podemos dizer que todas as crianças têm acesso aos bancos escolares mas a qualidade de ensino caiu de tal maneira que temos um enorme contingente de alfabetizados...ignorantes.

E esse modismo nos levou ao erro fundamental: eleger um ignorante para a presidência da república, com a justificativa que diploma não é garantia de nada e que justamente por ter origem humilde Lula compreenderia as necessidades do povo melhor do que ninguém.

E deu no que está dando...

O BRASIL PRECISA REDUZIR A IDADE PENAL

Os brasileiros já se cansaram de ver os menores praticando impunemente toda a sorte de estripulias criminosas: pesquisa recente revelou que cerca de 90% da população estaria pronta para defender uma redução da idade penal dos menores, seguindo outras nações importantes como a maioria dos países europeus e também os EUA. A redução da idade penal é mera questão de bom senso.

O Brasil tem inúmeras leis que, por terem sido instituídas demagogicamente ou sem o devido cuidado, muitas vezes acabam provocando um efeito contrário ao desejado. Outras leis, vão se desatualizando com o passar dos anos e requerem uma revisão de tempos em tempos. Exemplo disso eram as leis que regulavam o casamento e a infidelidade conjugal que colocavam a mulher em uma situação de subordinação ao marido, a qual hoje não é mais aceita e, portanto, perdeu sua validação. As leis que regulam a menoridade se encaixam perfeitamente neste caso de desatualização.

Grupos de defesa dos direitos humanos e outros na mesma linha de ação defendem a idéia de que o menor infrator é vítima: vítima da sociedade ou de uma família desestruturada, mas sempre vítima. Ora, isso nos parece uma simplificação cômoda, que não resolve o problema que o resto da sociedade tem ao enfrentar a convivência com aos menores infratores. Estes fatores estarão sempre presentes, até mesmo em países como a Suécia; portanto, não podem ser usados como escudo protetor para a criminalidade infanto-juvenil. Temos é que combater estes fatores incessantemente mas, ao mesmo tempo, é necessária a instituição de mecanismos mais poderosos de combate à criminalidade. Quem imagina que um garoto com 14 anos não tem noção de que ao assaltar à mão armada um motorista em uma esquina não está fazendo nada de errado é muito ingênuo ou está mal intencionado!

E há um aspecto que não se pode esquecer: a manutenção da maioridade criminal a partir dos 18 anos é daquelas situações que aparentemente defendem o menor mas, na realidade, provocam efeito contrário. As gangs organizadas contratam menores para participar dos crimes, cabendo à estes a “parte suja” da operação. São sempre eles que portam as armas e que acabam matando e ferindo as vítimas pois se a operação der errado, eles assumem a autoria do crime, sabendo que, por serem “de menor”, a impunidade estará relativamente garantida. Relativamente, porque mesmo na hipótese de serem recolhidos à uma instituição para detenção de menores infratores, sabem que para sair dela será muito simples, como os jornais não cansam de noticiar quase que diariamente.

UM FATO PARA SE REFLETIR

Em outubro de 2004 Duda Mendonça, responsável pela campanha publicitária do então candidato Lula à presidência, foi preso em flagrante em um “clube” de rinhas de galo no RJ, do qual declarou ser “sócio”. À imprensa ele afirmou não ter vergonha de nada, disse se tratar de um hobby antigo e que não estava fazendo nada de errado. Finalizou dizendo que “o Brasil todo sabe que eu gosto de rinha de galo e sabe que esse é o meu hobby”.

Esse episódio merece uma reflexão pois serve para explicar um pouco dos porquês da situação de falência moral em que se encontra o Brasil. Uma das poucas heranças positivas deixadas pelo ex-presidente Jânio Quadros, o breve, foi a de ter conseguido incluir a rinha de galo como contravenção penal. Desde então, dos anos ’60 até o momento, esta é uma lei que insiste em “não pegar” pois o tal “hobby” está mais vivo do que nunca. Sabemos que a boçalidade humana não tem limites e o fato do Sr. Duda ser um profissional de sucesso, não o livra de também ser um completo boçal como o episódio mostrou.

Acredito que qualquer pessoa medianamente sensível e que tenha noções básicas de respeito aos animais e à natureza em geral, aceite que o tal “hobby”, como o classifica Duda Mendonça, é de uma crueldade absurda. Nem precisamos perder mais tempo com isso. Ainda assim, restaria discutir se a lei é certa ou errada, mas o foro para tal discussão é o poder legislativo e não a prática do ato infracional pelo cidadão. Não é o que pensa o Sr. Duda. Vindo dele, particularmente como formador de formadores de opinião, o episódio torna-se ainda mais grave. Suas declarações, feitas em um tom misto de naturalidade e indignação, mostram o quanto certas pessoas se acham acima da lei no Brasil. Se não, vejamos: disse ele tratar-se de um “hobby antigo” (ou seja, confessa que transgride a lei há muito tempo), acha que “não está fazendo nada de errado” (portanto, ignora solenemente a lei ou se acha acima dela), “não tem vergonha de nada” (logo, ter sido preso em flagrante delito não lhe causa constrangimento algum) e, finalmente, “o Brasil todo sabe que eu gosto de rinha de galo” (procura envolver a nação toda como seu cúmplice passivo). É, sem dúvida, um descarado, mas sabe muito bem onde pisa.

Por conta do horário em que ocorreu o episódio, o Sr. Duda acabou passando a noite no xadrez. Entretanto, em menos de 24 horas, graças às suas conexões que vão ao mais alto escalão possível, livrou-se da situação incômoda. Mas o episódio não parou por aí. Passado um mês, quando o assunto já havia esfriado o suficiente, veio uma ordem superior destituindo de suas funções o delegado responsável pelo flagrante e transferindo-o para uma outra função mais subalterna.

E é assim que se destrói a estrutura moral de uma nação. É isso que estamos fazendo com incrível diligência ao longo dos séculos de nossa história e os resultados aí estão para quem quiser ver.

LER JORNAIS SEMPRE É BOM

Ler jornais sempre é bom. Mantém-nos informados, instrui e ensina. Recentemente, lí uma notícia sobre a aposentadoria conseguida por um anistiado político brasileiro: um ex-piloto e sindicalista, é claro! Altamente instrutiva, embora não pareça.

Eu já vinha desconfiando faz muito tempo que dei um rumo errado à minha vida, pensando em termos financeiros. Tivesse sido eu um militante de esquerda, mesmo dos mais inexpressivos ou tivesse eu ingressado no funcionalismo público, sendo medianamente esperto e minimamente competente, estaria hoje aposentado com uma belíssima pensão e não com a perspectiva de receber míseros R$2.000,00 após ter contribuído pesadamente à previdência social, particularmente nos últimos quase dez anos, sempre pagando pelo máximo possível. Os exemplos existem às carradas: tenho vários amigos que se dedicaram à carreira pública, hoje procuradores, juízes, desembargadores, todos com pensões mirabolantes. Há o caso de uma senhora, com 2 irmãs, todas legalmente “solteiras” e órfãs de pai militar. A pensão do pai falecido transferiu-se integralmente às filhas “solteiras” e, à medida que estas iam falecendo, a mesma pensão integral passava a se dividir entre as sobreviventes. Uma festa! Coisa de país rico, evidentemente, como é o nosso caso! O militar em questão trabalhou durante uns 30 anos e a pensão dele, transferida às filhas, se arrasta ao longo de mais de 60 anos! Como é que pode?

Há alguns anos atrás houve um caso ridículo: uma fulana em Minas Gerais fazendo lá suas pesquisas, conseguiu provar que era tatatataraneta do Tiradentes. O presidente FHC, à vista deste fato “extraordinário”, rapidamente determinou que lhe fosse concedida uma pensão de um salário mínimo. Até cheguei a pensar em tentar provar que se eu fosse um tatatatatataraneto do Caramuru, por exemplo, também pudesse beliscar algum! Infelizmente, não sou do ramo. Mas a coisa não pára por aí: lembramo-nos do caso do Lalau, o larápio do TRT do qual, ao longo do processo criminal que sofreu, acabou-se descobrindo que também recebia uma pensão milionária como aposentado do sistema público; há o caso do ex-governador de São Paulo, Franco Montoro, que recebia seis ou sete pensões diferentes; o do nosso próprio presidente Lula que também descolou a sua, assim como seu fiel escudeiro José Dirceu, e por aí vai.

No caso deste ex-piloto e sindicalista citado na reportagem, até posso admitir que, tendo sofrido a tal perseguição, recebesse uma indenização pelo prejuízo sofrido. E mesmo assim, uma indenização modesta e nada mais pois, como ele próprio admite, teve que mudar de profissão, ou seja, continuou trabalhando, talvez com salário inferior. A indenização deveria cobrir esta perda de status salarial pelo tempo devido. Em nome do que este fulano recebeu uma indenização de R$2,54 milhões? E qual seria o malabarismo que o fez receber uma pensão de R$6,6 mil com direito a repique de outra, que se soma à primeira, no valor de R$12,3 mil? Resumo da ópera: por vias de uma mágica – provavelmente tudo com o devido “amparo legal” – um ex-piloto e sindicalista de expressão reduzida, ao fim e ao cabo, transformou-se em um abonadíssimo aposentado. Que proeza!

Não há sistema previdenciário que resista à um festival destas proporções. Em qualquer estrutura financeira, da padaria da esquina ao INSS, não importa que tamanho tenha, a bitola do cano de entrada de recursos tem que ser maior ou igual à bitola do cano de saída. Isso é básico e primário. Não é necessário estudar-se Economia ou Administração de Empresas para se aprender isso. É noção intuitiva. Mas no Brasil, verdadeira casa da Mãe Joana, ignora-se solenemente este princípio básico e o resultado é um Estado permanentemente quebrado. Se o Brasil fosse uma empresa privada, já teria falido, com portas lacradas e tudo! E com os “patrões” devidamente encarcerados.

INFORMAÇÃO E DESINFORMAÇÃO

Recentemente a imprensa brasileira revelou dados de uma pesquisa realizada em conjunto pelo IBGE e o Ministério da Saúde, segundo a qual o problema da obesidade já é mais grave no Brasil do que o da desnutrição. O número de indivíduos obesos é mais do que o dobro do que o de desnutridos.

A conclusão deste estudo deve ter deixado arrasados os manipuladores da opinião pública. Afinal, a imagem do Brasil “Biafra” nos é vendida cotidianamente, ao ponto de nem mais raciocinarmos objetivamente: aceitamos que o País é pobre e que a fome é generalizada. E não é bem assim.

Esse tipo de conclusão aparentemente desconcertante nos remete para um problema mais geral que é o da manipulação de dados estatísticos e a simplificação exagerada de certas idéias, tudo com o intuito de manipular a opinião pública.

A manipulação de dados estatísticos é o domínio preferencial dos “chutadores” . Eles adoram citar números impossíveis de serem verificados no contexto de uma entrevista ou de uma conversa. Por exemplo, posso afirmar, com cara de anjo, que 78,3% dos estudantes chegam às universidades sem terem certeza de qual carreira querem seguir. Como contestar esta afirmação? É um “chute” que provavelmente seria aceito sem maiores considerações. Entidades ligadas aos direitos humanos adoram dizer que a prostituição infantil no Brasil atinge um universo de 850.000 meninas. Faça-me o favor!!!!! O tema da reforma agrária – neste aspecto – é uma verdadeira piada pois se compararmos os números do MST e os do governo, não dá para saber qual das partes vai levar o troféu Pinocchio. E a opinião pública fica sem saber o que pensar.

A simplificação exagerada é outro problema. Com este recurso, o manipulador pretende sintetizar uma idéia e a simplifica de uma forma absurda, geralmente provocando na opinião pública uma deformação conceitual. Generalizações do tipo “O Bush é retrógrado”, “O Lula é ignorante” , “A política imperialista dos Estados Unidos....”, “O juíz é ladrão” e coisas do gênero só servem para “colar” rótulos nem sempre verdadeiros, incutindo um falso conceito na opinião pública. Vejamos, por exemplo, o caso do Lula. É óbvio que ele tem escolaridade mínima, comete erros imperdoáveis no seu linguajar e sua cultura geral é limitada mas daí rotulá-lo como “ignorante” vai uma distância muito grande. Ninguém chega à presidência, numa disputa acirradíssima, sendo um “ignorante”. E, ademais, o que é exatamente “ser ignorante”? As recentes eleições americanas nos deram outro exemplo. Segundo uma corrente de analistas políticos, uma das maiores razões da vitória do Bush foi o fato da campanha republicana ter conseguido “colar” no Kerry a imagem de político vacilante, indeciso. A opinião pública comprou a idéia e puniu o “indeciso” nas urnas.

Esses problemas servem para mostrar como é importante numa sociedade a livre manifestação das idéias e a existência de uma imprensa livre onde seja possível comparar opiniões conflitantes pois a multiplicidade de opiniões diminui o espaço dos manipuladores. Entretanto, isso por si só não basta. É preciso educar o público no sentido de ter uma postura mais crítica, deixando de aceitar um dado ou uma informação apenas pelo fato de estar impressa em um jornal ou revista ou de ter sido divulgada por uma figura ou entidade tida como respeitável.

ACIDENTE DA TAM - 2007

17/07/07. Uma data terrível para centenas de pessoas: para as vítimas do acidente, para seus familiares e amigos, e para todos os que direta ou indiretamente estiveram envolvidos nesta tragédia.

O fato: um Airbus 320 da TAM ao pousar no Aeroporto de Congonhas em São Paulo, no finzinho de uma tarde de garoa, derrapou na pista, atravessou uma avenida e se chocou contra um prédio da própria companhia aérea e um posto de gasolina. Estou escrevendo este texto na manhã do dia seguinte, quando ainda não se tem uma noção exata do número de vítimas – superior a 200, pelas estimativas – nem das causas do acidente.

Mas, pelo que tem vazado pela imprensa, as causas podem ser múltiplas e uma análise destas possibilidades serve para mostrar como são as coisas no nosso Brasil. O acidente, longe de se constituir efetivamente em um “acidente”, na realidade parece ser o resultado de uma soma de erros e imprevidências.

O Aeroporto de Congonhas foi construído em São Paulo em torno de 1930. Naquela época, a aviação comercial ainda era incipiente e, portanto, a extensão da pista era relativamente curta. Adequada para a época, mas curta para hoje em dia. O local era descampado e isolado. Hoje é área densamente habitada. Essa situação, de um grande aeroporto estar em zona urbana, não é incomum. Em Berlim temos Tempelhof, em Paris Le Bourget e não pára por aí. Mas a existência de outros aeroportos em situação semelhante não chega a justificar a existência deles. Ninguém está livre de acidentes e quando eles acontecem em área densamente habitada, o potencial de estrago é imenso.

A pista de Congonhas estava deteriorada e precisava de uma reforma. Difícil de fazer sem parar o principal aeroporto brasileiro. Mas a reforma foi feita; porém, como soe acontecer no Brasil, liberou-se o uso das pistas antes que o serviço estivesse concluído. Faltava o acabamento da pista, que são as ranhuras que facilitam o escoamento da água nos dias de chuva. Sem este recurso, a pista fica escorregadia e o risco de aquaplanagem é enorme. Foi o que aconteceu.

A TAM havia sofrido um acidente em 1996, no mesmo aeroporto, quando um Fokker com 99 pessoas a bordo teve uma pane nos primeiros segundos após a decolagem: o reverso das turbinas começou a se acionar intermitentemente, provocando a queda do avião sobre várias casas. Nenhum sobrevivente e várias vítimas urbanas. A TAM, traumatizada pelo acidente, determinou que fossem colocados pinos de travamento nos reversos de suas aeronaves de modo que nunca mais fossem acionados. O Airbus de ontem estava “pinado”.

Segundo informações preliminares, parece que o piloto do Airbus perdeu o ponto de toque na pista, o que é uma coisa extremamente crítica numa pista considerada curta. Como conseqüência, o piloto precisava de um alto poder de frenagem: não podendo contar com o reverso que estava “pinado” apelou para os freios das rodas. Aquaplanou e percebeu que não conseguiria parar antes do fim da pista.

Nos segundos que teve para decidir o que fazer, decidiu errado. Se tivesse optado por continuar aquaplanando, teria chegado ao fim da pista, descido o talude de cerca de 30º de declive, teria atravessado as pistas da avenida e, possivelmente, pararia por aí. Muito provavelmente o número de vítimas seria bem reduzido. Mas ele tomou a decisão de arremeter e aí enfrentou o pior dos mundos pois estava com velocidade alta demais para parar na pista e baixa demais para decolar.

Ao tentar, desesperadamente, a decolagem, acabou batendo a cauda do avião na pista, desgovernou-se, passou por cima das pistas da avenida e foi se chocar contra um prédio e um posto de gasolina. Felizmente o combustível do posto de gasolina não se incendiou pois se isso tivesse acontecido a tragédia seria bem pior.

Vê-se, por essas informações preliminares que vão sendo divulgadas, que o acidente pode ter começado com uma falha humana mas outros fatores concorreram – e muito – para a extensão da tragédia. E uma análise da ocorrência oferece uma oportunidade para se aprender a lição e corrigir os fatores passíveis de correção. A falha humana, por melhor que seja a formação da tripulação, será sempre um fator inevitável.

Na minha opinião, o Aeroporto de Congonhas deveria ter outro destino: o de se tornar um aeroporto executivo, para aviões de pequeno porte, jatos executivos e helicópteros, com horário de funcionamento limitado. Melhor ainda se fosse completamente desativado e a área transformada em mais um parque da cidade.

Mas, para desativar o aeroporto, precisaria haver uma alternativa válida, seja através de uma ampliação de Guarulhos ou de uma reforma completa em Viracopos. Em qualquer das hipóteses, precisaria haver uma ligação rápida da cidade de São Paulo com estes terminais aéreos.

O único problema é que, no Brasil, este tipo de planejamento abrangente simplesmente não existe. Pensar que poderíamos ter um “Charles de Gaulle” em Viracopos, ligado a São Paulo por uma linha de trem-bala com estação urbana na Av. Marginal é querer demais. Demais para a cabecinha de nossos dirigentes. Pobre Brasil!