Saturday, March 27, 2010

INFORMAÇÃO E DESINFORMAÇÃO

Recentemente a imprensa brasileira revelou dados de uma pesquisa realizada em conjunto pelo IBGE e o Ministério da Saúde, segundo a qual o problema da obesidade já é mais grave no Brasil do que o da desnutrição. O número de indivíduos obesos é mais do que o dobro do que o de desnutridos.

A conclusão deste estudo deve ter deixado arrasados os manipuladores da opinião pública. Afinal, a imagem do Brasil “Biafra” nos é vendida cotidianamente, ao ponto de nem mais raciocinarmos objetivamente: aceitamos que o País é pobre e que a fome é generalizada. E não é bem assim.

Esse tipo de conclusão aparentemente desconcertante nos remete para um problema mais geral que é o da manipulação de dados estatísticos e a simplificação exagerada de certas idéias, tudo com o intuito de manipular a opinião pública.

A manipulação de dados estatísticos é o domínio preferencial dos “chutadores” . Eles adoram citar números impossíveis de serem verificados no contexto de uma entrevista ou de uma conversa. Por exemplo, posso afirmar, com cara de anjo, que 78,3% dos estudantes chegam às universidades sem terem certeza de qual carreira querem seguir. Como contestar esta afirmação? É um “chute” que provavelmente seria aceito sem maiores considerações. Entidades ligadas aos direitos humanos adoram dizer que a prostituição infantil no Brasil atinge um universo de 850.000 meninas. Faça-me o favor!!!!! O tema da reforma agrária – neste aspecto – é uma verdadeira piada pois se compararmos os números do MST e os do governo, não dá para saber qual das partes vai levar o troféu Pinocchio. E a opinião pública fica sem saber o que pensar.

A simplificação exagerada é outro problema. Com este recurso, o manipulador pretende sintetizar uma idéia e a simplifica de uma forma absurda, geralmente provocando na opinião pública uma deformação conceitual. Generalizações do tipo “O Bush é retrógrado”, “O Lula é ignorante” , “A política imperialista dos Estados Unidos....”, “O juíz é ladrão” e coisas do gênero só servem para “colar” rótulos nem sempre verdadeiros, incutindo um falso conceito na opinião pública. Vejamos, por exemplo, o caso do Lula. É óbvio que ele tem escolaridade mínima, comete erros imperdoáveis no seu linguajar e sua cultura geral é limitada mas daí rotulá-lo como “ignorante” vai uma distância muito grande. Ninguém chega à presidência, numa disputa acirradíssima, sendo um “ignorante”. E, ademais, o que é exatamente “ser ignorante”? As recentes eleições americanas nos deram outro exemplo. Segundo uma corrente de analistas políticos, uma das maiores razões da vitória do Bush foi o fato da campanha republicana ter conseguido “colar” no Kerry a imagem de político vacilante, indeciso. A opinião pública comprou a idéia e puniu o “indeciso” nas urnas.

Esses problemas servem para mostrar como é importante numa sociedade a livre manifestação das idéias e a existência de uma imprensa livre onde seja possível comparar opiniões conflitantes pois a multiplicidade de opiniões diminui o espaço dos manipuladores. Entretanto, isso por si só não basta. É preciso educar o público no sentido de ter uma postura mais crítica, deixando de aceitar um dado ou uma informação apenas pelo fato de estar impressa em um jornal ou revista ou de ter sido divulgada por uma figura ou entidade tida como respeitável.

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