Saturday, March 27, 2010

ACIDENTE DA TAM - 2007

17/07/07. Uma data terrível para centenas de pessoas: para as vítimas do acidente, para seus familiares e amigos, e para todos os que direta ou indiretamente estiveram envolvidos nesta tragédia.

O fato: um Airbus 320 da TAM ao pousar no Aeroporto de Congonhas em São Paulo, no finzinho de uma tarde de garoa, derrapou na pista, atravessou uma avenida e se chocou contra um prédio da própria companhia aérea e um posto de gasolina. Estou escrevendo este texto na manhã do dia seguinte, quando ainda não se tem uma noção exata do número de vítimas – superior a 200, pelas estimativas – nem das causas do acidente.

Mas, pelo que tem vazado pela imprensa, as causas podem ser múltiplas e uma análise destas possibilidades serve para mostrar como são as coisas no nosso Brasil. O acidente, longe de se constituir efetivamente em um “acidente”, na realidade parece ser o resultado de uma soma de erros e imprevidências.

O Aeroporto de Congonhas foi construído em São Paulo em torno de 1930. Naquela época, a aviação comercial ainda era incipiente e, portanto, a extensão da pista era relativamente curta. Adequada para a época, mas curta para hoje em dia. O local era descampado e isolado. Hoje é área densamente habitada. Essa situação, de um grande aeroporto estar em zona urbana, não é incomum. Em Berlim temos Tempelhof, em Paris Le Bourget e não pára por aí. Mas a existência de outros aeroportos em situação semelhante não chega a justificar a existência deles. Ninguém está livre de acidentes e quando eles acontecem em área densamente habitada, o potencial de estrago é imenso.

A pista de Congonhas estava deteriorada e precisava de uma reforma. Difícil de fazer sem parar o principal aeroporto brasileiro. Mas a reforma foi feita; porém, como soe acontecer no Brasil, liberou-se o uso das pistas antes que o serviço estivesse concluído. Faltava o acabamento da pista, que são as ranhuras que facilitam o escoamento da água nos dias de chuva. Sem este recurso, a pista fica escorregadia e o risco de aquaplanagem é enorme. Foi o que aconteceu.

A TAM havia sofrido um acidente em 1996, no mesmo aeroporto, quando um Fokker com 99 pessoas a bordo teve uma pane nos primeiros segundos após a decolagem: o reverso das turbinas começou a se acionar intermitentemente, provocando a queda do avião sobre várias casas. Nenhum sobrevivente e várias vítimas urbanas. A TAM, traumatizada pelo acidente, determinou que fossem colocados pinos de travamento nos reversos de suas aeronaves de modo que nunca mais fossem acionados. O Airbus de ontem estava “pinado”.

Segundo informações preliminares, parece que o piloto do Airbus perdeu o ponto de toque na pista, o que é uma coisa extremamente crítica numa pista considerada curta. Como conseqüência, o piloto precisava de um alto poder de frenagem: não podendo contar com o reverso que estava “pinado” apelou para os freios das rodas. Aquaplanou e percebeu que não conseguiria parar antes do fim da pista.

Nos segundos que teve para decidir o que fazer, decidiu errado. Se tivesse optado por continuar aquaplanando, teria chegado ao fim da pista, descido o talude de cerca de 30º de declive, teria atravessado as pistas da avenida e, possivelmente, pararia por aí. Muito provavelmente o número de vítimas seria bem reduzido. Mas ele tomou a decisão de arremeter e aí enfrentou o pior dos mundos pois estava com velocidade alta demais para parar na pista e baixa demais para decolar.

Ao tentar, desesperadamente, a decolagem, acabou batendo a cauda do avião na pista, desgovernou-se, passou por cima das pistas da avenida e foi se chocar contra um prédio e um posto de gasolina. Felizmente o combustível do posto de gasolina não se incendiou pois se isso tivesse acontecido a tragédia seria bem pior.

Vê-se, por essas informações preliminares que vão sendo divulgadas, que o acidente pode ter começado com uma falha humana mas outros fatores concorreram – e muito – para a extensão da tragédia. E uma análise da ocorrência oferece uma oportunidade para se aprender a lição e corrigir os fatores passíveis de correção. A falha humana, por melhor que seja a formação da tripulação, será sempre um fator inevitável.

Na minha opinião, o Aeroporto de Congonhas deveria ter outro destino: o de se tornar um aeroporto executivo, para aviões de pequeno porte, jatos executivos e helicópteros, com horário de funcionamento limitado. Melhor ainda se fosse completamente desativado e a área transformada em mais um parque da cidade.

Mas, para desativar o aeroporto, precisaria haver uma alternativa válida, seja através de uma ampliação de Guarulhos ou de uma reforma completa em Viracopos. Em qualquer das hipóteses, precisaria haver uma ligação rápida da cidade de São Paulo com estes terminais aéreos.

O único problema é que, no Brasil, este tipo de planejamento abrangente simplesmente não existe. Pensar que poderíamos ter um “Charles de Gaulle” em Viracopos, ligado a São Paulo por uma linha de trem-bala com estação urbana na Av. Marginal é querer demais. Demais para a cabecinha de nossos dirigentes. Pobre Brasil!

No comments: