Thursday, August 10, 2006

CAVALO SELADO




No Brasil, quando uma grande oportunidade se oferece, costumamos dizer que um cavalo selado está passando na sua porteira. É só montar e sair galopando.

Na porteira do Brasil está passando um tremendo cavalo selado e ninguém está se apercebendo disso.

Os EUA, finalmente, parecem ter acordado para o problema da dependência do petróleo e estão freneticamente procurando alternativas viáveis. Vale tudo : fazendas de energia eólica, usinas hidroelétricas utilizando o movimento das marés, reativação da construção de usinas termo-nucleares, conversão de carvão mineral em gasolina e outros derivados, biodiesel, desenvolvimento da tecnologia para veículos elétricos, híbridos e movidos a hidrogênio e, finalmente, álcool combustível.

No que diz respeito ao álcool combustível, a solução encontrada pelos EUA é a de extraí-lo a partir do milho. Acontece que o “complexo milho” aqui está em relativo equilíbrio: o País tem uma produção gigantesca já alocada para os diversos fins de consumo humano e animal. A criação de excedentes para conversão em álcool combustível – na escala que os EUA demandam – exigirá um aumento brutal da área plantada. Além do que, existem outros dois grandes problemas: primeiro, que as usinas de conversão, entre projeto inicial e início de atividades, demandam alguns anos e, segundo, que o processo de obtenção do álcool a partir do milho é menos eficiente do que aquele que utiliza a cana-de-açúcar.

Esta é uma excelente oportunidade para o Brasil investir num lobby para eliminar o imposto que é taxado sobre o álcool importado pelos EUA e se posicionar como grande e confiável fornecedor, ao invés de ficar com picuinhas com os EUA em torno da criação da ALCA, ficar criando focos de atrito ao se alinhar com tipos histriônicos como Chávez e coisas do gênero.

As usinas em construção nos EUA atendem apenas o meio-oeste americano. Aqui na Flórida, por exemplo, não há sequer um único posto de gasolina que venda o chamado E-85 (15% gasolina – 85% álcool) e a indústria automobilística (principalmente a GM e Ford) está produzindo os chamados motores flex-fuel aos magotes.

O Nordeste brasileiro pelo clima e posicionamento geográfico está numa situação invejável para um empreendimento deste tipo. Só não podemos perder o cavalo selado pois em breve todo o Caribe também se posicionará. Provavelmente a própria Cuba pós-Fidel também vai querer recuperar sua velha posição de grande produtora mundial de cana-de-açúcar e ela está a menos de 100 milhas da costa da Flórida.

Para os EUA esta é uma excelente solução para o seu problema energético pois trocará meia dúzia de fornecedores problemáticos e cartelizados por uma grande variedade de produtores mais confiáveis e geográficamente mais próximos. A própria diversidade de fornecedores impedirá uma cartelização eficiente e assim, os preços a serem praticados serão aqueles ditados pela estrutura de custos combinada com as leis da oferta e da demanda.