O “Daily Telegraph” recentemente tascou a
manchete “Pornografia Danifica o Cérebro” e o “Daily Mirror” para não ficar por
baixo deu que “Assistir Pornografia Encolhe o Cérebro”!
As manchetes basearam-se num estudo feito por
uma psicóloga e um psiquiatra envolvendo 64 homens e que detectou algumas
alterações no cérebro deles enquanto assistiam a videos pornográficos. Embora o
resultado a que chegaram tivesse sido inconclusivo (não sabiam dizer se as
pessoas que vêem pornografia sofrem alterações no cérebro ou se pessoas com
certos tipos de cérebro têm maior inclinação por assistir pornografia) a
imprensa saiu na frente e radicalizou.
Não entro no mérito de a pornografia ser
saudável ou não pois a questão aqui é a do falso cientificismo e nada mais. Qualquer
estudo que envolva 64 indivíduos é, liminarmente, irrelevante e, portanto,
inútil. A imprensa e a Internet divulgam incessantemente estudos
pseudo-científicos como esse, geralmente, sem citar as fontes e muito menos os
detalhes do estudo e divulgam conclusões que induzem o publico a falsas
conclusões, como é o caso desse.
Fico imaginando como fazer uma pesquisa dessas
pois a própria seleção da amostra já é um problema. Além de ter que ser
representativa, contando com um adequado cross-section
da população, teria que ter apenas indivíduos que declarem não assistir à
pornografia (pois do contrário já teriam o cérebro encolhido!!!). Se
perguntarmos para 10 pessoas se assistem ou não à pornografia, eu arriscaria
dizer que de 8 a 9 diriam que não e a taxa-Pinóquio iria à estratosfera e a
amostra para a pesquisa estaria irremediavelmente comprometida. Aí teriam que
fazer um MRI em todo mundo e esperar alguns anos para deixar a galera curtir os
“Deep Throat” à vontade. Tudo bem
medido e avaliado: quantas horas por semana ou dia, que tipo de pornografia, se
houve um posterior “self-service” ou não
e por aí vai. Passados uns anos, nova bateria de MRI’s.... sei lá! Não acredito
nisso.
A manchete dos jornais é mentirosa e
potencialmente danosa pois introduz uma falsa conclusão do tipo da que havia no
passado com relação à masturbação. Quando eu era adolescente, meus pais não
tiveram comigo o “the talk” e, ao contrário, compraram um livro sobre educação
sexual do Dr. Fritz Kahn, um médico alemão nascido no século XIX, com idéias do
século XIX ou, na melhor das hipóteses, em linha com as idéias dos anos '30, em que o livro foi publicado.
Apesar de tudo li o livro e achei as ilustrações ótimas (principalmente as que
mostravam a anatomia feminina) mas lembro-me que no capítulo da masturbação,
ele dizia que levava à loucura e à imbecilização! Pode?