Saturday, March 27, 2010

LER JORNAIS SEMPRE É BOM

Ler jornais sempre é bom. Mantém-nos informados, instrui e ensina. Recentemente, lí uma notícia sobre a aposentadoria conseguida por um anistiado político brasileiro: um ex-piloto e sindicalista, é claro! Altamente instrutiva, embora não pareça.

Eu já vinha desconfiando faz muito tempo que dei um rumo errado à minha vida, pensando em termos financeiros. Tivesse sido eu um militante de esquerda, mesmo dos mais inexpressivos ou tivesse eu ingressado no funcionalismo público, sendo medianamente esperto e minimamente competente, estaria hoje aposentado com uma belíssima pensão e não com a perspectiva de receber míseros R$2.000,00 após ter contribuído pesadamente à previdência social, particularmente nos últimos quase dez anos, sempre pagando pelo máximo possível. Os exemplos existem às carradas: tenho vários amigos que se dedicaram à carreira pública, hoje procuradores, juízes, desembargadores, todos com pensões mirabolantes. Há o caso de uma senhora, com 2 irmãs, todas legalmente “solteiras” e órfãs de pai militar. A pensão do pai falecido transferiu-se integralmente às filhas “solteiras” e, à medida que estas iam falecendo, a mesma pensão integral passava a se dividir entre as sobreviventes. Uma festa! Coisa de país rico, evidentemente, como é o nosso caso! O militar em questão trabalhou durante uns 30 anos e a pensão dele, transferida às filhas, se arrasta ao longo de mais de 60 anos! Como é que pode?

Há alguns anos atrás houve um caso ridículo: uma fulana em Minas Gerais fazendo lá suas pesquisas, conseguiu provar que era tatatataraneta do Tiradentes. O presidente FHC, à vista deste fato “extraordinário”, rapidamente determinou que lhe fosse concedida uma pensão de um salário mínimo. Até cheguei a pensar em tentar provar que se eu fosse um tatatatatataraneto do Caramuru, por exemplo, também pudesse beliscar algum! Infelizmente, não sou do ramo. Mas a coisa não pára por aí: lembramo-nos do caso do Lalau, o larápio do TRT do qual, ao longo do processo criminal que sofreu, acabou-se descobrindo que também recebia uma pensão milionária como aposentado do sistema público; há o caso do ex-governador de São Paulo, Franco Montoro, que recebia seis ou sete pensões diferentes; o do nosso próprio presidente Lula que também descolou a sua, assim como seu fiel escudeiro José Dirceu, e por aí vai.

No caso deste ex-piloto e sindicalista citado na reportagem, até posso admitir que, tendo sofrido a tal perseguição, recebesse uma indenização pelo prejuízo sofrido. E mesmo assim, uma indenização modesta e nada mais pois, como ele próprio admite, teve que mudar de profissão, ou seja, continuou trabalhando, talvez com salário inferior. A indenização deveria cobrir esta perda de status salarial pelo tempo devido. Em nome do que este fulano recebeu uma indenização de R$2,54 milhões? E qual seria o malabarismo que o fez receber uma pensão de R$6,6 mil com direito a repique de outra, que se soma à primeira, no valor de R$12,3 mil? Resumo da ópera: por vias de uma mágica – provavelmente tudo com o devido “amparo legal” – um ex-piloto e sindicalista de expressão reduzida, ao fim e ao cabo, transformou-se em um abonadíssimo aposentado. Que proeza!

Não há sistema previdenciário que resista à um festival destas proporções. Em qualquer estrutura financeira, da padaria da esquina ao INSS, não importa que tamanho tenha, a bitola do cano de entrada de recursos tem que ser maior ou igual à bitola do cano de saída. Isso é básico e primário. Não é necessário estudar-se Economia ou Administração de Empresas para se aprender isso. É noção intuitiva. Mas no Brasil, verdadeira casa da Mãe Joana, ignora-se solenemente este princípio básico e o resultado é um Estado permanentemente quebrado. Se o Brasil fosse uma empresa privada, já teria falido, com portas lacradas e tudo! E com os “patrões” devidamente encarcerados.

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