Thursday, June 24, 2010

FUTEBOL FEIO

Assistindo aos jogos da Copa do Mundo 2010 cheguei a algumas conclusões: uma delas é a de que à Europa sobram recursos financeiros e falta talento. Retirados de cena a penca de jogadores “importados” pela Europa e que jogam para os clubes europeus, vindos principalmente da América do Sul e da África, o que sobra é uma coleção de pernas-de-pau, ressalvadas as exceções de praxe. Para exemplificar a minha conclusão, basta ver as eliminações da França e da Itália e o fraco desempenho – pelo menos na fase classificatória – da Alemanha e da Espanha.

Mas esse é um problema europeu pois a segunda conclusão que cheguei diz respeito à seleção brasileira. Ela não só não me entusiasma como chega a ser irritante. É um time burocrático, covarde e cheio de pseudo-craques. O técnico Dunga é a versão do momento de uma geração de técnicos, que eu acho que começou com o Zagalo, que defende o “futebol de resultados”. Essa filosofia é furada e só poderia mesmo ter sido consistentemente perseguida por esse renque de técnicos cabeça-de-bagre, a maioria constituída por ex-jogadores de talento mais do que duvidoso, de cuja lista o Zagalo e o Dunga são dois expoentes.

Embora o futebol seja uma máquina de fazer dinheiro e, como tal tenha que ser administrado como uma empresa, esse enfoque empresarial se aplica aos clubes e às federações estaduais e nacionais, que o organizam. Também aceito que o mercado de jogadores, que envolve transações milionárias, tenha que ser administrado de forma racional e que todo esse conjunto de atividades esteja sujeito à muita politicagem esportiva. Porém, pára por aí: não podemos confundir o futebol com a política. A “Realpolitik” é coisa de outra esfera e, por isso, o “futebol de resultados” é tese furada. Dizer que o que importa é a vitória, seja ela obtida da forma que for, é algo que contraria a própria natureza do futebol.

O futebol é um espetáculo e, como tal, é feito para o público apreciar. Dez de cada dez torcedores dirão que preferem um jogo de muitos gols do que um zero a zero. O gol é o objetivo máximo do esporte e a vitória geralmente sua consequência. Mas, além do gol, o jogo precisa de exibição de talento: dribles, jogadas de efeito e muita ação ofensiva. E não esse jogo extremamente cauteloso, cheio de passes laterais que o Brasil acabou adotando, seguindo uma tendência européia. Isso pode ser válido para a Europa por causa da crônica falta de talentos mas não para o Brasil. Um exemplo bem atual do que digo é o time do Santos, constituido por um bando de moleques desavergonhados que aplica goleadas históricas seguidamente e que encanta não só o público como também a crônica esportiva. E cujos craques foram solenemente ignorados pelo Dunga na hora da convocação.

A aplicação do futebol de resultados no Brasil é uma forma de castração do talento dos nossos jogadores e está mais do que na hora de enterrar essa idéia insensata. Como não existe nada que seja totalmente bom ou totalmente ruim, uma eventual derrota do Brasil nesta Copa talvez sirva como uma oportunidade para se reciclar as idéias e, finalmente, abandonar essa tese bocó.

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